EXTENSÃO EM TEMPOS DE QUARENTENA.
Itaan Pastor Santos1
Quando o reitor editou a portaria normativa 36/2000, no dia 16 de março, que determinou a redução das atividades da UEMA suspendendo as aulas presenciais e mantendo apenas as atividades administrativas, como gerente do LABEX – Núcleo de Extensão e Desenvolvimento, determinei a paralisação de todas as nossas atividades externas. Naquela semana ficamos apenas com as atividades de escritório fazendo um rodízio da equipe técnica e do corpo de estagiários2. Mesmo assim, na metade da semana, decidi que na outra semana iríamos parar completamente, antes até da nova portaria do reitor, afinal não seria saudável deixar técnicas e alunos circularem dentro dos ônibus sem um motivo que fosse absolutamente necessário.
As nossas discussões, portanto, a partir daquele momento passaram a buscar respostas à seguinte questão: como continuar desenvolvendo as atividades perante as comunidades e grupos sociais quando não se poderia estar presencialmente em nenhum dos locais onde o Labex mantinha o desenvolvimento dos seus projetos?
Naquele momento o Labex desenvolvia três grandes projetos em seis municípios envolvendo 24 comunidades onde participavam 246 famílias. Já na semana seguinte estaríamos na terça feira em Barreirinhas para fazer a certificação da turma local do curso de agroecologia, mesmo curso que teria sua segunda turma lançada na sexta feira seguinte em São Benedito do Rio Preto. Ainda sobre o Curso de Extensão Semipresencial em Agroecologia soubemos na sequência que as aulas marcadas das duas turmas de Santo Amaro e a turma de Icatu estavam suspensas pelos respectivos monitores locais. O projeto Mais Extensão estava com a proposta da Rota das Areias – circuito de turismo de base comunitário – em fase de definição com várias atividades marcadas para as semanas seguintes. E o projeto Juventude Quilombola, com atrasos das suas atividades em função das chuvas que impediram a chegada em algumas comunidades, precisava atender a uma extensa programação prevista no cronograma enviado à FAPEMA.
Pela minha longa experiência de trabalho com famílias e comunidades rurais, a ausência por um tempo longo e a paralisação das atividades provoca sempre uma debandada das pessoas dos projetos, o que exige, quando da retomada, um retorno quase ao ponto inicial. Como evitar esses problemas em tempo de pandemia seria o nosso maior desafio.
Estrategicamente, desde o primeiro contato com as famílias e os grupos formais ou informais, a equipe Labex estabelece uma ação que nos projetos de extensão chamamos de aproximação. Logo nessa etapa quando o projeto deve ser apresentado, na prática não apresentamos o projeto, mas sim o Labex e a equipe, ao mesmo tempo em que estimulamos a apresentação das pessoas, das famílias, das atividades desenvolvidas no local, dos desejos e sonhos… Enfim, buscamos criar uma relação que permita tornarmo-nos próximos das pessoas e das famílias de modo que passamos a fazer parte da comunidade. Durante algum tempo, como forma de ganharmos confiança, a aproximação é muito mais importante do que o projeto em si. Com isso, em quase todos os nossos projetos, a ideia inicial é totalmente modificada pelas indicações dos moradores locais. Foi assim, por exemplo, com a atual versão do projeto Mais Extensão. De cada um desses moradores que se tornam parceiros do Labex passamos a manter uma relação, de trabalho e, muitas vezes, de amizade. Assim, os projetos encerram seus prazos de financiamento, mas continuamos a atuar nas comunidades por tempo indeterminado. Temos todos os contatos dessas pessoas com quem conversamos com muita sistemática.
Esse processo de aproximação nos permite ter alguns indicativos de como fazer para que as nossas atividades de extensão não fiquem zeradas e não precisemos começar do zero quando retornarmos. Com as lideranças das comunidades, das famílias, das juventudes e dos projetos continuamos, nesse período de isolamento social, conversando com bastante constância sobre o momento do projeto, sobre as atividades que podem (ou devem) ser executadas, sobre os problemas e as soluções… Em muitos momentos a equipe responde dúvidas sobre questões técnicas relacionadas a temas diversos independentes dos projetos.
O contato permanente com o público parceiro não só nos permite manter os projetos e atividades do Labex em funcionalidade, mas nos permite, como em todas as nossas atividades, um constante aprendizado sobre a dinâmica das comunidades, em especial a forma como as pessoas conseguem se relacionar entre si, com o ambiente, com as outras comunidades… as suas experiências sobre como resolver seus problemas ambientais, técnicos produtivos, sociais e institucionais de forma empírica, através das técnicas de erro e tentativa.